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DO JUSTINOFILHO

Imperatriz na Política, esporte e comunidade
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bem meus amigos gosto de ler muito porque quem nao estudou tem que ler
para nao se perder veja leia e se delicie com a...
Lya Luft: A mentirosa liberdade

VEJA
“Liberdade não vem de correr atrás de ‘deveres’ impostos de fora, mas
de construir a nossa existência”
Comecei a escrever um novo livro, sobre os mitos e mentiras que nossa
cultura expõe em prateleiras enfeitadas, para que a gente enfie esse
material na cabeça e, pior, na alma – como se fosse algodão-doce
colorido. Com ele chegam os medos que tudo isso nos inspira: medo de
não estar bem enquadrados, medo de não ser valorizados pela turma,
medo de não ser suficientemente ricos, magros, musculosos, de não
participar da melhor balada, do clube mais chique, de não ter feito a
viagem certa nem possuir a tecnologia de ponta no celular. Medo de não
ser livres.
Na verdade, estamos presos numa rede de falsas liberdades. Nunca se
falou tanto em liberdade, e poucas vezes fomos tão pressionados por
exigências absurdas, que constituem o que chamo a síndrome do “ter
de”. Fala-se em liberdade de escolha, mas somos conduzidos pela
propaganda como gado para o matadouro, e as opções são tantas que não
conseguimos escolher com calma. Medicados como somos (a pressão, a
gordura, a fadiga, a insônia, o sono, a depressão e a euforia, a
solidão e o medo tratados a remédio), cedo recorremos a expedientes,
porque nossa libido, quimicamente cerceada, falha, e a alegria, de
tanta tensão, nos escapa.
Preenchem-se fendas e falhas, manchas se removem, suspendem-se
prazeres como sendo risco e extravagância, e nos ligamos no espelho:
alguém por aí é mais eficiente, moderno, valorizado e belo que eu?
Alguém mora num condomínio melhor que o meu? Em fileira ao longo das
paredes temos de parecer todos iguais nessa dança de enganos.
Sobretudo, sempre jovens. Nunca se pôde viver tanto tempo e com tão
boa qualidade, mas no atual endeusamento da juventude, como se só
jovens merecessem amor, vitórias e sucesso, carregamos mais um ônus
pesadíssimo e cruel: temos de enganar o tempo, temos de aparentar 15
anos se temos 30, 40 anos se temos 60, e 50 se temos 80 anos de idade.
A deusa juventude traz vantagens, mas eu não a quereria para sempre:
talvez nela sejamos mais bonitos, quem sabe mais cheios de planos e
possibilidades, mas sabemos discernir as coisas que divisamos, podemos
optar com a mínima segurança, conseguimos olhar, analisar e curtir –
ou nos falta o que vem depois: maturidade?
Parece que do começo ao fim passamos a vida sendo cobrados: O que você
vai ser? O que vai estudar? Como? Fracassou em mais um vestibular? Já
transou? Nunca transou? Treze anos e ainda não ficou? E ainda não
bebeu? Nem experimentou uma maconhazinha sequer? E um Viagra para
melhorar ainda mais? Ainda aguenta os chatos dos pais? Saiba que eles
o controlam sob o pretexto de que o amam. Sai dessa! Já precisa
trabalhar? Que chatice! E depois: Quarenta anos ganhando tão pouco e
trabalhando tanto? E não tem aquele carro? Nunca esteve naquele
resort?
Talvez a gente possa escapar dessas cobranças sendo mais natural,
cumprindo deveres reais, curtindo a vida sem se atordoar. Nadar contra
toda essa louca correnteza. Ter opiniões próprias, amadurecer, ajuda.
Combater a ânsia por coisas que nem queremos, ignorar ofertas no fundo
desinteressantes, como roupas ridículas e viagens sem graça, isso
ajuda. Descobrir o que queremos e podemos é um bom aprendizado, mas
leva algum tempo: não é preciso escalar o Himalaia social nem ser uma
linda mulher nem um homem poderoso. É possível estar contente e ter
projetos bem depois dos 40 anos, sem um iate, físico perfeito e grande
fortuna. Sem cumprir tantas obrigações fúteis e inúteis, como nos
ordenam os mitos e mentiras de uma sociedade insegura, desorientada,
em crise. Liberdade não vem de correr atrás de “deveres” impostos de
fora, mas de construir a nossa existência, para a qual, com todo esse
esforço e desgaste, sobra tão pouco tempo. Não temos de correr
angustiados atrás de modelos que nada têm a ver conosco, máscaras,
ilusões e melancolia para aguentar a vida, sem liberdade para
descobrir o que a gente gostaria mesmo de ter feito.
fonte.
Lya Luft é escritora

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